Certa vez eu estava construindo alguns componentes de um mecanismo de autenticação com certificado digital e tive que gastar algumas boas horas em um problema absolutamente simples. Uma das etapas do trabalho envolvia verificar uma assinatura digital. É o café com leite das chaves públicas e privadas. Embora não tivesse criado expectativas sobre o tempo que gastaria para fazer isso, não era um trabalho para gastar muito tempo.

Um servidor externo fornecia algumas informações, cuja validade era assegurada por uma assinatura digital realizada com uma chave privada. Meu trabalho era refazer a montagem dessas informações e verificar a chave pública que possuímos conseguia descriptografar o hash da assinatura digital. Se sim, as informações eram autênticas.

No entanto, o servidor externo usa um par chaves pública e privada próprios, onde só temos a chave pública. Depois de montar alguns testes unitários simples, estava usando uma chave pública que jamais validarias informações que eu tinha de exemplo, pois ela foram geradas pelo próprio servidor, em um ambiente de produção. A fim de validar minha solução, troquei o arquivo da chave pública que já estava lá. Tive o cuidado de renomea-lá para “publickey.crt.backup”. Em seguida adicionei a outra chave pública, o par da chave privada do servidor externo. Testei. Sem muita surpresa, a validação continuava falhando. As coisas funcionarem de primeira nessa área também um problema a ser invesigado com atenção. Mas o problema real foram as horas que se seguiram, pois não conseguia encontrar a falhade nenhuma forma. A verificação da assintura digital sempre falhava.

Debug, ChatGPT, Stackoverflow, documentação da API do Java, Bouncy Castle… nada conseguia indicar o que eu estava fazendo de errado. Talvez eu estivesse montando a mensagens em uma ordem diferente da usada pelo servidor externo, mas revisando diversas vezes, não parecia ser isso. Poderia ser cofidicação de caracteres, mas também não, tudo era UTF-8. Espaços em branco sendo adicionado no encoding para base64, também não. Passei uma tarde inteira nisso. Aquela funcionalidade cuja implementação mais pesada era para ser concluída em um 1 h levou o dia inteiro.

O problema? Logo no início, quando tive que renomear o arquivo da chave pública dos testes unitários para não perdê-lo, a IDE automaticamente também renomeou a referência para este arquivo dentro do código fonte. Assim, embora o arquivo tenha sido renomeado e um outro, com o mesmo nome, colocado no local, passei todo tempo achando que estava usando a cahve pública do servidor externo para validar um exemplo fornecido por ele próprio, mas o código continuava a usar a chave antiga.

Situações como essas são frustrantes. Deixam algum nível de sentimento de tristeza. Tempo perdido. Mas também não deixa de ser um dia qualquer. Se não fosse isso, seriam outros problemas. Essa experiência reflete um aspecto central do trabalho técnico e do desenvolvimento de software: a relação entre a simplicidade aparente de uma tarefa e a complexidade que surge devido a detalhes muitas vezes invisíveis.

A raiz do problema não estava na falta de conhecimento técnico ou em uma lacuna de habilidade. Estava em um detalhe sutil. Esse tipo de situação é emblemático do trabalho de desenvolvedores e engenheiros: erros podem surgir não porque algo foi feito errado, mas porque algo que não deveria mudar… mudou. É uma piada comum no meio da engenharia de software é aquela que diz para não mexer em algo que já estava funcionando. Não se aplica exatamente neste relato, mas a relação sobre mudar rotinas já estabelecidas e ter impactos em funcionalidaes aparentemente sem relação com a mudança inicial, é uma constante.

A frustração sentida é legítima. Há a sensação de que o tempo foi desperdiçado, que um dia de trabalho não rendeu em algo que não deveria ter sido um problema. No entanto, essa experiência também carrega um aprendizado. Primeiro, ela mostra a importância de manter um olhar crítico mesmo para os processos mais automáticos, como revisitar configurações e detalhes que, em um primeiro momento, pareceriam triviais. Segundo, ela nos lembra da necessidade de cultivar paciência e resiliência diante de desafios inesperados.

Essa reflexão também destaca uma verdade essencial sobre o desenvolvimento de software e, por extensão, sobre qualquer trabalho criativo ou técnico: é um campo onde as coisas raramente acontecem exatamente como planejado. Se não fosse o problema com a chave pública, poderia ter sido algo diferente. No final das contas, a habilidade de lidar com imprevistos e aprender com eles é o que realmente importa.

É importante lembrar que mesmo o tempo gasto nesses erros aparentemente banais contribui para o nosso crescimento. Cada vez que enfrentamos uma situação como essa, aprendemos a ser mais cuidadosos, mais atentos. Talvez, na próxima vez, ao renomear um arquivo, você se recorde dessa experiência e verifique a referência manualmente. Esse aprendizado, embora custoso, é valioso e faz parte do constante aprimoramento que define a vida de quem trabalha com tecnologia.

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Last Update: 04/12/2024